1.3.07

Design mais

Design mais
Há dias em que não cabemos na pele com que andamos...ontem foi um deles e acabou no seu melhor: inauguração da exposição ou mostra de Design mais, se assim entenderem, da Des+gn[ers] mais.
Para melhor informação, o evento decorre desde hoje até dia 11, no espaço da Moda Lisboa, ali para os lados de Pedrouços, junto à Universidade Moderna.
O que aqui reflito textualmente em nada tem a ver com os felizes contemplados para darem a cara pela sua criação, mas com a sua atitude, o enquadramento, os responsáveis.
Espaço – A relatividade e efemeridade destas coisas deixa a pensar nelas e em termos de qualidade de serviço, a meu ver, não justifica o simples facto de se verificarem ausência de condições para o público estar num espaço, que no mínimo deveria ter WC. Isto para não falar nas instalações eléctricas e as características do próprio espaço. Vale algum valor de aluguer ou foi cedido a título "pro bono", como o fez crer o Presidente do Centro Português de Design, ontem, no seu discurso de abertura?

Mostra Des+gn[ers]mais – Pode parecer-te estranho, caro leitor, mas não achas que os trabalhos dos designers lusos ali presentes, depois do grande expoente de Barcelona, Milão e Londres, deveria merecer entre nós uma exibição pública mais condigna? Não sei se alguém abordou neste sentido a questão na sua mente, no momento inaugural ou a visitar a exposição, mas depois de uma ronda por localizações sensíveis e críticas nesta área por essa Europa fora, voltámos agora ao Portugal dos Pequeninos, depois de mostramos a nossa grandeza lá fora, voltámos ao buraco! Em Lisboa, aquilo é o que há de mais digno e “gentilmente cedido pela Moda Lisboa” Valha-nos S. Vicente, padroeiro de Lisboa, que se aguentou 3 meses em carne e osso numa nau, guardado por 2 corvos, até ser enterrado condignamente aqui nesta belíssima cidade...Isto é confrangedor e sem qualquer comentário. Continuamos a querer mamar na teta do estado? Até quando? E quantos dos designers ali presentes e outros saídos actualmente das faculdades e institutos são formados para a iniciativa ou são empresários? E quantos se juntam para uma iniciativa destas em parceria e de sua iniciativa? Porque não copiar outras iniciativas como a da Fátima Lopes na área da moda e abrir outros horizontes nessas capitais?

Comunicação – divulgação ao poder, é a minha proposta: viral mkt, boca a boca, CML-ecrãs públicos, parcerias ao abrigo da cultura, imaginação ao poder. Caso não saibam como fazer, porque não perguntar como se pode fazer, até mesmo em regime “pro bono” a alguma empresa de comunicação e publicidade que trabalhe estas coisas? Acho, que o CPD continua fechado sobre si próprio e conluio de uns tantos...sei que estás livre disso, caro leitor, por isso podes ouvir e ler estas coisas :)

Olha, não me conformo e a nossa imagem tem de ser preservada: o que mostrámos lá fora é o que fazemos cá dentro e somos grandes em ideias e criatividade. Porque não aproveitar para fazer a mesma exposição no Porto, nas capitais de distrito, nos espaços onde as pessoas vão? E que tal falar com uma SONAE, uma Amorim, e proporcionar ao comum cidadão a oportunidade de participar nesta experiência lusa de Design mais. É apenas uma ideia e sei que há custos logísticos. Será que outras entidades também podem ajudar a superar essas dificuldades?

Alguma ousadia nestas observações não serão impolutas de convivência com o sentimento do que muito fica por fazer neste Design mais, mas já não aguento este miserabilismo e de andar com a chupeta do estado, como referiu o presidente do CPD no discurso inaugural, de que o estado nem sempre dava apoio e muitas vezes andava alheado destas. Mas não foi o Ministério da Economia, através do ICEP, que apoiou a iniciativa, a defendeu e a promoveu nas instâncias comunitárias?
No reino de Sua Magestade do João V, muito se fez com o ouro oriundo do novo continente na construção de obras públicas de renome mundial, marcos na história monumental e cultural e com iniciativas de vulto, a ponto de enviar uma embaixada ao Papa com elefantes carregados de ouro, que proporcionou o cardinalato à Capital do Reino em prole das novas evengelizações dos povos indígenas. O povo assistiu impávido e sereno, participante ausente das iniciativas do seu soberano, mas interventivo no esforço de construção das obras, cujas ideias surgiram para se imporem, magnânimes.
Hoje, sem ouro e aneis, emagrecidos os dedos, lambendo as chagas do miserabilismo e da pedincha, da falta de ideias, criatividade e acção vital de vulto entre a iniciativa pública, nem acarinhamos o que de melhor temos e vemos surgir aqui e ali, mesmo quando são incentivadas. E cá entre nós, ainda mantemos no beco aquilo que deve ser mostrado para partilhar a motivação das nossas actuais glórias, entre as quais se conta o design mais e os seus autores: grandes no estrangeiro, pequeninos na nossa terra, de ambição mísera e envergonhada.

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